domingo, 6 de novembro de 2016

APOSTILA DE FUNDAMENTOS E METODOLOGIA DA LÍNGUA PORTUGUESA II - NAVEGAR PELA DIVERSIDADE DE NOSSA LÍNGUA

NAVEGAR PELA DIVERSIDADE DE NOSSA LÍNGUA Desde as caravelas lusitanas, nosso idioma se espalhou e criou raízes por diversas partes do mundo. Da Europa à África, Ásia e América, a “última flor do Lácio” − como a chama o poeta Olavo Bilac − se enamorou de outros tantos idiomas, gerando novos sotaques, vocabulários, sintaxes: formas de ver, sentir, comunicar, expressar o mundo. A diversidade da língua, percebida de forma mais intensa na oralidade, reflete a riqueza cultural dos povos que a utilizam. Ao mesmo tempo, o idioma constrói a identidade de uma nação, bem como é canal de comunicação e colaboração entre povos irmãos, falantes da mesma língua. Assim, conhecer e expressar essa diversidade é fundamental para compreender a língua como um processo vivo, sempre em transformação. Além disso, considerar, comparar e valorizar as variedades orais é uma forma de combater o preconceito linguístico, prática que deprecia o diferente e ainda hoje exclui milhões de pessoas do acesso aos bens da cultura letrada. DIFERENÇA ENTRE LÍNGUA, IDIOMA, DIALETO E SOTAQUE Existem importantes diferenças entre língua, idioma e dialeto. Contudo, esses elementos cumprem uma mesma finalidade: promover a comunicação entre os falantes. Língua, idioma e dialeto. Possivelmente você já deve ter ouvido falar sobre os três termos, não é mesmo? Expressões comuns na Sociolinguística – área da Linguística que estuda a relação entre a língua e a sociedade – esses elementos apresentam diferenças significativas entre si, as quais veremos agora. Língua: A língua é, sobretudo, um instrumento de comunicação, e é essa a sua maior finalidade. Ela pertence aos falantes, que dela apropriam-se para estabelecer interações com a sociedade onde vivem. Quando dizemos que a língua é um instrumento do povo, dizemos que, embora existam as normas gramaticais que regem um idioma, cada falante opta por uma forma de expressão que mais lhe convém, originando aquilo que chamamos de fala. A fala, embora possa ser criativa, deve ser regida por regras maiores e socialmente estabelecidas, caso contrário, cada um de nós criaria sua própria língua, o que impossibilitaria a comunicação. Na fala encontramos as variações linguísticas, que jamais devem ser vistas como transgressões ao idioma, mas sim como uma prova de que a língua é viva e dinâmica. A comunicação é a finalidade maior de uma língua, idioma ou dialeto: é por meio dela que ocorrem as interações sociais. Idioma: O idioma é uma língua própria de um povo. Está relacionado com a existência de um Estado político, sendo utilizado para identificar uma nação em relação às demais. Por exemplo, no Brasil, o idioma oficial é o Português, comum à maioria dos falantes. Mesmo que existam comunidades que utilizem outros idiomas, apenas a língua portuguesa recebe o status de língua oficial. Existem países, como o Canadá, por exemplo, em que dois idiomas são considerados como oficiais, o francês e o inglês. Dialeto: O dialeto é a variedade de uma língua própria de uma região ou território e está relacionado com as variações linguísticas encontradas na fala de determinados grupos sociais. As variações linguísticas podem ser compreendidas a partir da análise de três diferentes fenômenos: exposição aos saberes convencionais (diferentes grupos sociais com maior ou menor acesso à educação formal utilizam a língua de maneiras diferentes); situação de uso (os falantes adequam-se linguisticamente às situações comunicacionais de acordo com o nível de formalidade) e contexto sociocultural (gírias e jargões podem dizer muito sobre grupos específicos formados por algum tipo de “simbiose” cultural). Sotaque - Chamamos de sotaque o tom, inflexão ou pronúncia particular de cada indivíduo ou de cada região. Se você já teve a oportunidade de viajar para diferentes regiões do país, sabe bem do que estamos falando. Aliás, nem é preciso sair de casa para perceber as variações de sotaque na língua portuguesa, já que esse jeito de falar particular pode ser percebido através de veículos como a televisão e o rádio, nos quais a oralidade é a modalidade vigente. Cada estado brasileiro apresenta peculiaridades na fala, pois apesar de compartilharmos o mesmo idioma, seria quase impossível que um país tão grande apresentasse uma uniformidade na fala. Os diferentes sotaques encontrados no Brasil podem ser explicados sob o ponto de vista histórico. Sabemos que nosso país foi colonizado por diferentes povos e em diferentes momentos de nossa história. Enquanto na região Sul houve uma imigração maciça de italianos, alemães e outros povos oriundos do leste europeu, no Pernambuco, por exemplo, a influência veio dos holandeses dos tempos de Maurício de Nassau. No Rio Grande do Sul, a formação do sotaque é ainda mais curiosa, pois além dos italianos e alemães, há a influência do espanhol falado nos países que fazem fronteira com o estado. No Rio de Janeiro, que foi sede da corte portuguesa entre 1808 e 1821, a influência do sotaque português pode ser percebida através do jeito de pronunciar o “S” bem chiado. No Norte, em virtude do distanciamento geográfico, a região ficou menos exposta à influência estrangeira, o que manteve o sotaque encontrado na região mais próximo à prosódia das línguas indígenas. Vale lembrar que os primeiros contatos linguísticos do português falado no Brasil (a distinção é importante em razão da diferença entre o português falado aqui e o português falado em Portugal) foram com as línguas indígenas e as línguas africanas. Posteriormente, a partir do século 19, os imigrantes de outras partes do mundo contribuíram para o nosso conjunto de sotaques. É importante ressaltar que cada lugar tem sua maneira de pronunciar as palavras e sua própria prosódia, portanto, não existe sotaque melhor ou mais correto que o outro, essa é uma visão preconceituosa que diminui a singularidade de nossa cultura. Nossos sotaques fazem parte de nosso patrimônio cultural e são um elemento importante para a formação da identidade do povo brasileiro. Os diferentes sotaques brasileiros denotam nossa multiplicidade cultural construída através da influência de diversos povos As variações da língua Uma definição geral sobre a variação lingüística torna-se necessária para um melhor aproveitamento dos textos inicialmente postos. Podemos entender por dialeto as variações de pronúncia, vocabulário e gramática pertencentes a uma determinada língua. Os dialetos não ocorrem somente em regiões diferentes, pois numa determinada região existem também as variações dialetais etárias, sociais, referentes ao sexo masculino e feminino e estilísticas. Como exemplo de variação regional, encontramos certas palavras possuindo significados que necessitam de “tradução”, caso de “pastelaria” significando para os brasileiros o lugar onde se vende pastel de carne, queijo e palmito basicamente. Em Portugal vamos à pastelaria comprar pães doces, bolinhos e outras guloseimas do gênero. Um carro velho e muito usado é apelidado de “chocolateria” em Portugal, mas no Brasil não se usa esse termo. Existem dialetos que evidenciam o nível social ao qual pertence um indivíduo. Os dialetos mais prestigiados são das classes mais elevadas e o da elite é tomado não mais como dialeto e sim como a própria “língua”. A discriminação do dialeto das classes populares é geralmente baseada no conceito de que essa classe por não dominar a norma padrão de prestígio e usar seus próprios métodos para a realização da linguagem, “corrompem” a língua com esses “erros”. No entanto, as transformações que vão acontecendo na língua se devem também à elite que absorve alguns termos de dialetos de classes mais baixas, provocando uma mudança lingüística, e aí o “erro” já não é mais erro... e nesse caso não se diz que a elite “corrompe” a língua. A camada mais jovem da população usa um dialeto que se contrasta muito com o usado pelas pessoas mais idosas. Os jovens absorvem novidades e adotam a linguagem informal, enquanto os idosos tendem a ser mais “conservadores”. Essa falta de conservadorismo característica no dialeto dos jovens costuma trazer mudanças na língua. Algumas gírias usadas por jovens da década de setenta no entanto não entraram na língua e são hoje em dia raramente usadas como “pisante” para sapato ou “cremilda” para dentadura. A palavra “legal” entretanto, foi aceita e hoje é usada amplamente na linguagem informal, abrangendo todas as faixas etárias. Esses exemplos comprovam o fato de que nem tudo que é novo e diferente irá se efetivar numa língua, podendo alguns vocábulos simplesmente ir desaparecendo e outros continuarem existindo dentro de um determinado dialeto, ou até abranger seu uso por outros, sem necessariamente cobrir todos os dialetos existentes nessa língua. As mulheres possuem algumas peculiaridades no uso da língua e os homens possuem outras. Para exemplificar essas variações referentes ao sexo observamos os diminutivos como “bonitinho”, “gracinha”, “menininha”, sendo usados mais pelas mulheres e aumentativos de nomes próprios como “Carlão” e “Marcão” sendo mais usados por homens. Dependendo do ambiente em que o indivíduo se encontra, ele usará a linguagem coloquial, formal ou informal e essa diferença de tratamento faz parte da variação estilística. ATIVIDADES  leia com atenção, assinale as idéias mais importantes que você encontrar, elabore 10 questões e responda.

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